80. Passando a flor da idade na prisão
Todos dizem que a flor da idade é a época mais esplêndida e pura da vida. É possível que, para muita, gente esses anos sejam repletos de belas lembranças, mas eu nunca imaginaria que iria passar a flor da minha idade no campo de trabalho forçado. Pode soar estranho quando digo isto, mas eu não me arrependo. Embora esse período atrás das grades tenha sido cheio de amargura e lágrimas, foi o presente mais precioso da minha vida e ganhei muito com isso.
Certo dia em abril de 2002, eu estava hospedado na casa de uma irmã quando a prisão aconteceu. À 1 hora da manhã, de repente, fomos despertadas por batidas fortes e insistentes na porta. Ouvimos alguém do lado de fora gritando: “Abram a porta! Abram a porta!”. Assim que a irmã a abriu, vários policiais empurraram abruptamente a porta e entraram em bando, dizendo agressivamente: “Somos do Departamento de Segurança Pública”. Ao ouvir essas quatro palavras, “Departamento de Segurança Pública”, fiquei imediatamente nervosa. Estariam ali para nos prender por nossa crença em Deus? Eu ouvira falar de alguns irmãos e irmãs que foram presos e perseguidos por causa de sua fé; será que isso estava acontecendo comigo agora? Nesse exato momento meu coração começou a acelerar e, tomada pelo pânico, eu não soube o que fazer. Assim, orei apressadamente a Deus: “Deus, imploro que Tu estejas comigo. Dá-me fé e coragem. Não importa o que aconteça, estarei sempre disposta a dar testemunho de Ti. Também imploro que Tu me dês Tua sabedoria e me concedas as palavras que devo dizer, e, por favor, me impede de trair a Ti e de delatar meus irmãos e irmãs”. Depois que orei, meu coração se acalmou aos poucos. Vi os quatro ou cinco policiais malignos revirando o local feito bandidos, vasculhando entre a roupa de cama, em cada armário e caixa, e mesmo embaixo da cama até finalmente encontrarem alguns livros das palavras de Deus e alguns CDs de hinos. Então nos levaram para a delegacia. Quando chegamos à sala, vários policiais corpulentos entraram atrás de nós e ficaram à minha esquerda e direita. O chefe do grupo de policiais malignos perguntou aos gritos: “Como você se chama? De onde você é? Quantos vocês são ao todo?”. Eu havia acabado de abrir a boca e estava no meio da resposta quando ele avançou sobre mim e me estapeou duas vezes no rosto. Atordoada, eu me calei e pensei: “Por que você me bateu? Eu nem terminei de responder. Por que você está sendo tão grosseiro e ignorante, totalmente diferente de como eu imaginava ser a Polícia do Povo?”. Em seguida ele me perguntou quantos anos eu tinha, e quando respondi honestamente que tinha dezessete anos, ele me esbofeteou mais duas vezes no rosto e me repreendeu por mentir. Depois disso, não importa o que eu dissesse, ele me estapeava no rosto seguidas vezes, indiscriminadamente, ao ponto em que meu rosto estava em chamas com a dor. Lembrei-me de ter ouvido meus irmãos e irmãs dizendo que era inútil tentar argumentar com esses policiais cruéis. Tendo experimentado isso pessoalmente, a partir daquele momento eu não disse uma só palavra, não importa o que perguntassem. Quando viram que eu não estava falando, berraram comigo: “Sua vagabunda! Vamos ajudá-la a pensar direito, senão você não nos dirá a verdade!”. Dito isso, um deles me deu dois socos no peito, fazendo-me cambalear e cair pesadamente ao chão. Em seguida ele me chutou com força algumas vezes, me ergueu do chão e me mandou ajoelhar aos berros. Como não obedeci, ele me chutou algumas vezes nos joelhos. A dor intensa que tomou conta de mim me forçou a cair de joelhos ao chão com um baque. Ele me agarrou pelos cabelos e os puxou para baixo com força, e, de repente, puxou minha cabeça para trás, forçando-me a olhar para cima. Ele me xingou ao estapear meu rosto mais algumas vezes e minha única sensação era de que o mundo estava girando. Logo eu caí ao chão. Nesse momento, o chefe daquela polícia maligna de repente reparou no meu relógio de pulso. Olhando-o com ar de cobiça, ele gritou: “O que você tem aí?”. Imediatamente, um dos policiais agarrou meu pulso, arrancou o relógio e o entregou ao seu “mestre”. Um dos policiais cruéis me agarrou pelo colarinho como se estivesse pegando um pintinho, me ergueu do chão e rugiu: “Ah, você é tão durona, não? Eis sua recompensa por ficar quieta!”. Ao dizer isso, ele me espancou ferozmente mais algumas e, novamente, fui parar no chão. A essa altura meu corpo inteiro doía insuportavelmente e eu não tinha mais forças para resistir. Fiquei simplesmente deitada no chão com os olhos fechados, sem me mexer. Em meu coração, implorei urgentemente a Deus: “Ó Deus, não sei quais outros atos selvagens essa gangue de policiais malignos cometerá contra mim. Tu sabes que sou pequena em estatura e fisicamente fraca. Eu imploro que Tu me protejas. Prefiro morrer a ser um Judas e trair a Ti”. Depois da minha oração, Deus me deu fé e força. Eu preferiria morrer a ser um Judas por trair a Deus e denunciar meus irmãos e irmãs. Eu daria testemunho de Deus resolutamente. Nesse momento, ouvi alguém ao meu lado dizer: “Por que ela não está mais se mexendo? Está morta?”. Em seguida alguém pisou deliberadamente na minha mão e jogou todo seu peso nela enquanto gritava ferozmente: “Levante-se! Vamos levá-la a outro lugar”.
Mais tarde, fui levada ao Departamento de Segurança Pública do Condado. Quando chegamos à sala de interrogatório, o chefe daqueles policiais malignos e dois outros me cercaram e me interrogaram repetidamente, andando de um lado para o outro na minha frente e tentando me forçar a entregar os líderes da minha igreja e meus irmãos e irmãs. Quando viram que eu ainda me recusava a dar as respostas que eles queriam ouvir, os três se revezaram me estapeando o rosto repetidamente. Não sei quantas vezes me bateram; eu só conseguia ouvir os estalos das bofetadas em meu rosto, um som que parecia quebrar o silêncio da calada da noite. Como já estavam com as mãos doloridas, os policiais malignos começaram a me bater com livros. Bateram tanto que no fim eu nem sentia mais dor, apenas meu rosto inchado e entorpecido. No final, vendo que não iriam arrancar nenhuma informação valiosa de mim, os policiais cruéis pegaram uma agenda de telefone e, com um olhar triunfal, disseram: “Encontramos isso na sua bolsa. Mesmo que você não nos conte nada, ainda temos mais uma carta na manga!”. Fiquei subitamente muito ansiosa: se algum dos meus irmãos ou irmãs atendesse ao telefone, poderia ser preso. Aquilo também poderia implicar a igreja, e as consequências poderiam ser desastrosas. Nesse momento, lembrei-me de uma passagem das palavras de Deus: “De tudo que ocorre no universo, não há nada no qual Eu não tenha a palavra final. Existe alguma coisa que não esteja em Minhas mãos?” (A Palavra, vol. 1: A aparição e a obra de Deus, “Palavras de Deus para todo o universo, Capítulo 1”). “Isso mesmo”, pensei. “Todas as coisas e eventos são orquestrados e arranjados nas mãos de Deus. Se uma ligação telefônica é ou não completada é uma decisão que cabe inteiramente a Ele. Estou disposta a olhar para Deus e confiar Nele e me submeter às Suas orquestrações.” Assim, orei repetidamente a Deus, implorando a Ele que protegesse aqueles irmãos e irmãs. Consequentemente, eles ligaram para todos aqueles números; em alguns casos, ninguém atendeu, em outros, a ligação nem chegou a ser completada. No final, xingando de tão frustrados, os policiais malignos jogaram a agenda sobre a mesa e desistiram de ligar. Não pude deixar de expressar meus agradecimentos e louvores a Deus.
No entanto, eles não desistiram e continuaram a me interrogar sobre os assuntos da igreja. Eu não respondi. Desconcertados e exasperados, adotaram um método ainda mais desprezível para tentar me fazer sofrer: um dos policiais malignos me forçou a ficar meio agachada com os braços esticados à altura dos ombros, sem me mover. Logo minhas pernas começaram a tremer e eu não aguentava mais manter os braços esticados, então meu corpo começou a se levantar involuntariamente. O policial pegou uma barra de ferro e olhou para mim feito um tigre observando a presa. Assim que me levantei, ele bateu nas minhas pernas brutalmente, provocando tanta dor que quase caí de joelhos. Durante a meia hora seguinte, ao menor movimento de minhas pernas ou braços, ele imediatamente me batia com a barra. Não sei quantas vezes ele me bateu. Por ter ficado nessa posição de agachamento por tanto tempo, minhas pernas ficaram extremamente inchadas e doíam insuportavelmente, como se estivessem fraturadas. Com o passar do tempo, minhas pernas tremiam ainda mais e meus dentes batiam continuamente. A essa altura, parecia que minhas forças iriam se esgotar. No entanto, os policiais malignos apenas ficaram zombando de mim e me ridicularizando, rindo o tempo todo com escárnio, sordidamente, como pessoas tentando cruelmente convencer um macaco a fazer truques. Quanto mais eu olhava seus rostos pavorosos e desprezíveis, mais ódio eu sentia por aqueles policiais malignos. Lembrei-me das palavras de Deus: “Quando as pessoas estão preparadas para sacrificar a própria vida, tudo se torna insignificante e ninguém consegue vencê-las. O que poderia ser mais importante que a vida? Assim, Satanás se torna incapaz de fazer algo mais nas pessoas, não há nada que ele possa fazer com o homem” (A Palavra, vol. 1: A aparição e a obra de Deus, “Interpretações dos mistérios das ‘Palavras de Deus para todo o universo’, Capítulo 36”). Então, de repente, eu me levantei e disse em voz alta: “Não vou me agachar mais. Podem me condenar à morte! Hoje não tenho nada a perder! Nem ao menos tenho medo de morrer, então como poderia ter medo de vocês? São homens tão grandes, mas parece que não sabem fazer nada além de intimidar uma mocinha como eu!”. Para minha surpresa, depois que eu disse isso, o grupo de policiais malignos xingou mais um pouco e depois parou de me interrogar.
Aquele bando de policiais malignos havia me atormentado quase a noite inteira; quando pararam, já era dia. Eles me fizeram assinar meu nome e disseram que iam me deter. Depois disso, um policial mais velho, fingindo bondade, me disse: “Veja bem, a senhorita é tão jovem, está na flor da idade. A melhor coisa pode fazer é nos contar logo tudo que sabe. Garanto que eu os farei libertá-la. Se você tiver algum problema, não hesite em me dizer. Veja, seu rosto está inchado feito pão. Você já não sofreu o suficiente?”. Ao ouvi-lo falar dessa maneira, eu sabia que estava apenas tentando me convencer a fazer algum tipo de confissão. Também me lembrei de algo que meus irmãos e irmãs haviam dito durante as reuniões: para conseguir o que quer, a polícia maligna morde e assopra e recorre a todo tipo de truque para enganar as pessoas. Pensando nisso, respondi ao policial mais velho: “Não aja como uma boa pessoa; vocês todos fazem parte do mesmo grupo. O que você quer que eu confesse? O que você está fazendo chama-se extorquir uma confissão. Isso é punição ilegal!”. Ao ouvir isso, ele fez uma cara de inocente e argumentou: “Mas eu não bati em você uma única vez. Foram eles que bateram em você”. Eu agradeci a orientação e proteção de Deus, que, mais uma vez, me permitiram levar a melhor sobre a tentação de Satanás.
Depois de deixar o Departamento de Segurança Pública do Condado, eles imediatamente me trancafiaram na casa de detenção. Assim que entramos pelo portão da frente, vi que o local era cercado por muros muito altos com cerca elétrica correndo por cima, e em cada um dos quatro cantos havia o que parecia uma torre de sentinela com guardas armados. Era tudo muito sinistro e terrível. Depois de atravessar um portão de ferro atrás do outro, cheguei à cela. Quando vi as mantas de linho esfarrapadas em cima da cama de alvenaria gelada, tanto escuras quando sujas, e senti o cheiro forte e desagradável que emanava delas, fui tomada por uma incontrolável sensação de nojo. Na hora das refeições, cada prisioneiro recebia apenas um pequeno pão cozido no vapor, azedo e meio cru. Mesmo eu tendo sido torturado pela polícia por meia noite e não comido nada, perdi totalmente o apetite. Além disso, meu rosto estava tão inchado devido às agressões da polícia que eu o sentia totalmente esticado, como se estivesse embrulhado com fita adesiva. Abrir a boca para falar já era muito dolorido, quanto mais para comer. Nessas circunstâncias, caí num estado depressivo e me senti muito injustiçada. Pensar que eu realmente teria de ficar ali e suportar uma existência tão desumana me deixou tão emotiva que derramei algumas lágrimas involuntariamente. A irmã que foi presa junta teve comunhão com as palavras de Deus comigo e entendi que Deus havia permitido que eu viesse parar naquele ambiente e estava me pondo à prova e me testando para ver se eu poderia dar testemunho. Ele também estava usando essa oportunidade para aperfeiçoar minha fé. Percebendo isso, parei de me sentir injustiçada e comecei em meu íntimo a tomar a resolução de suportar minhas dificuldades.
Duas semanas se passaram e o chefe daqueles policiais malignos voltou para me interrogar. Vendo-me calma e tranquila, sem medo algum, ele me chamou em voz alta e gritou: “Diga-me sinceramente: onde você já foi presa antes? Certamente não é sua primeira vez na prisão; senão, como você poderia agir com tanta calma e experiência, como se não tivesse medo algum?”. Ao ouvi-lo dizer aquilo, não pude deixar de agradecer e louvar a Deus em meu coração. Deus havia me protegido e me dado coragem, permitindo que eu enfrentasse aqueles policiais malignos com total destemor. Naquele momento, meu coração se encheu de raiva: você está abusando de seu poder perseguindo as pessoas por suas crenças religiosas, e você prende, intimida e fere sem razão aqueles que acreditam em Deus. Você não obedece a lei alguma, nem terrena nem celestial. Eu acredito em Deus e sigo a senda correta e não infringi a lei. Por que deveria ter medo de você? Não vou sucumbir às forças malignas da sua gangue! Eu então retruquei: “Você acha que lá fora é tudo tão entediante que eu realmente queria estar aqui? Você me tratou injustamente e me intimidou! Qualquer outra tentativa que fizer para extorquir uma confissão ou me incriminar será inútil!”. Ao ouvir isso, ele ficou tão bravo que parecia prestes a soltar fumaça pelos ouvidos. Ele gritou: “Você é teimosa demais para nos contar qualquer coisa. Então não vai falar, vai? Vou te dar uma sentença de três anos e veremos se vai começar a se comportar ou não. Ai de você se continuar com essa teimosia!”. Nesse momento cheguei ao limite da minha indignação. Respondi em voz alta: “Eu ainda sou jovem, então o que são três anos para mim? Estarei fora da prisão num piscar de olhos”. Cheio de raiva, o policial maligno levantou-se de repente e rosnou para seus lacaios: “Eu desisto. Interroguem-na vocês”. Em seguida saiu, batendo a porta atrás dele. Vendo o que havia acontecido, os dois policiais não me questionaram mais; apenas terminaram de escrever um depoimento para eu assinar e saíram. Ao ver a polícia maligna parecer tão derrotada fiquei muito feliz e louvei em meu coração a vitória de Deus sobre Satanás. Na segunda rodada de interrogatório eles mudaram de tática. Assim que entraram pela porta, fingiram preocupação: “Você está aqui há tanto tempo. Como é que nenhum membro da sua família veio vê-la? Eles devem ter desistido de você. Que tal ligar para eles e pedir que venham visitá-la?”. Ao ouvir aquilo fiquei abatida e angustiada. Eu me senti sozinho e desamparado. Senti saudades de casa e dos meus pais, e meu desejo de liberdade foi ficando cada vez mais intenso. Involuntariamente, meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu não queria chorar diante daquela gangue de policiais malignos. Em silêncio, orei a Deus: “Ó Deus, neste momento estou tão infeliz e sofrendo dor, e me sinto muito desamparada. Por favor me ajude. Não quero deixar que Satanás veja minha fraqueza. No entanto, neste momento não consigo compreender a Tua vontade. Peço a Ti que me ilumines e me guies”. Depois de orar, uma ideia me ocorreu subitamente: esse era o ardil astuto de Satanás; a tentativa de me fazer entrar em contato com minha família poderia ter sido um truque para fazê-los pagar um resgate, alcançando assim seu objetivo de extorquir algum dinheiro; ou talvez tenham tomado conhecimento de que todos os membros da minha família acreditavam em Deus e queriam aproveitar essa oportunidade para prendê-los. Aqueles policiais malignos eram realmente cheios de estratagemas. Não fosse a iluminação de Deus, eu poderia ter telefonado para casa. Isso, indiretamente, não teria feito de mim um Judas? Assim, declarei a Satanás secretamente: “Diabo vil, simplesmente não permitirei que suas enganações sejam bem-sucedidas”. Então eu disse com indiferença: “Não sei por que meus familiares não vieram me ver. Eu não me importo, seja lá o que fizerem comigo!”. A polícia maligna não tinha mais cartas na mão. Depois disso não me interrogaram mais.
Um mês se passou. Um dia, meu tio veio me visitar de repente, dizendo que estava tentando me tirar dali e que eu deveria ser libertada dentro de alguns dias. Deixei a sala de visitas extremamente feliz. Achei que finalmente poderia ver a luz do dia novamente, bem como meus irmãos, irmãs e entes queridos. Assim, comecei a sonhar acordada, ansiosa para que meu tio viesse me buscar. Todos os dias eu ficava atenta, esperando os guardas me chamarem para dizer que eu poderia sair. Pois bem, uma semana depois, um guarda realmente veio me chamar, e parecia que meu coração ia pular fora do peito. Cheguei alegremente à sala de visitas. No entanto, quando vi meu tio, ele abaixou a cabeça. Depois de uma longa pausa, ele disse num tom desanimado: “Eles já finalizaram o seu caso. Você foi condenada a três anos”. Ao ouvir aquilo, fiquei atordoada e não conseguia pensar em nada. Resisti às lágrimas e consegui não chorar. Depois disso, era como se eu não conseguisse mais ouvir o que meu tio dizia. Saí da sala de visitas, em transe. Meus pés pareciam estar cheios de chumbo, cada passo mais pesado do que o anterior. Nem me lembrei de como tinha voltado à minha cela. Ao chegar lá, desabei no chão e pensei: “Nesse período de mais ou menos um mês dessa existência desumana, cada dia pareceu um ano; como poderei aguentar três longos anos disso?”. Quanto mais eu pensava nisso, mais crescia minha angústia e mais nebuloso e insondável parecia ser meu futuro. Incapaz de segurar mais as lágrimas, caí em pranto. Pensei que, como menor, jamais seria sentenciado ou que, no máximo, ficaria preso por alguns meses. Pensei que teria de suportar apenas um pouco mais de dor e adversidade e aguentar um pouco mais e então tudo acabaria; jamais passou pela minha cabeça que realmente teria que passar três anos na prisão. Na minha tristeza, voltei-me para Deus novamente. Eu me abri para Ele, dizendo: “Ó Deus, eu sei que todas as coisas e todos os eventos estão em Tuas mãos, mas, neste momento, meu coração parece estar completamente esvaziado. Sinto que estou prestes a sucumbir; acho que será muito difícil suportar três anos de sofrimento na prisão. Ó Deus, eu imploro que Tu reveles a Tua vontade a mim, e imploro que me concedas fé e força para que eu possa me submeter totalmente a Ti e corajosamente aceitar o que me acometeu”. Após esta oração, pensei nas palavras de Deus: “Durante estes últimos dias, vocês devem dar testemunho de Deus. Não importa quão grande seja o sofrimento de vocês, devem caminhar até o fim e até mesmo até seu último suspiro, ainda assim vocês devem ser fieis a Deus e ficar à mercê de Deus; só isso é realmente amar a Deus e apenas isso é o testemunho forte e retumbante” (A Palavra, vol. 1: A aparição e a obra de Deus, “Somente experimentando provações dolorosas é que você pode conhecer a amabilidade de Deus”). As palavras de Deus me deram fé e força e estava disposto a me submeter. Independentemente do que possa me acontecer ou de quanto sofrimento eu possa passar, eu não culparia Deus de forma alguma; eu seria testemunha Dele. Dois meses depois, fui transferida para um campo de trabalhos forçados. Quando recebi meus documentos de condenação e os assinei, descobri que a pena de três anos fora comutada para um ano. Agradeci e louvei a Deus várias vezes em meu coração. Deus estava orquestrando tudo, e fui capaz de perceber nisso o imenso amor e proteção que Ele tinha por mim.
No campo de trabalhos forçados, vi um lado ainda mais cruel e brutal da polícia maligna. Tínhamos de levantar bem cedo para trabalhar e, todos os dias, éramos sobrecarregados de tarefas. Tínhamos de trabalhar por longas horas todos os dias e, às vezes, trabalhávamos sem parar por vários dias e noites seguidos. Alguns prisioneiros adoeceram e precisaram receber medicação por via intravenosa e o gotejamento era administrado na velocidade máxima para que acabasse logo e eles pudessem retornar rapidamente à oficina e voltar ao trabalho. Com isso, a maioria dos condenados acabou contraindo algumas doenças que eram muito difíceis de curar. Certas pessoas que trabalhavam lentamente sofriam abuso verbal frequente dos guardas, com linguagem de baixo calão simplesmente insuportável de ouvir. Algumas pessoas violavam as regras enquanto trabalhavam, então eram punidas. Por exemplo, eram “colocadas na corda”, o que significava que tinham que se ajoelhar no chão com as mãos amarradas atrás das costas e os braços dolorosamente erguidos à força até o nível do pescoço. Outros eram amarrados a árvores com correntes de ferro feito cães e açoitados impiedosamente. Algumas pessoas, incapazes de suportar essa tortura desumana, tentavam se matar por inanição, mas os guardas as algemavam pelos tornozelos e pulsos e as imobilizavam, forçando-as a comer e beber por meio de sondas. Eles temiam que esses prisioneiros pudessem morrer, não porque dessem valor à vida, mas porque se preocupavam em perder a mão-de-obra barata que forneciam. As ações malignas cometidas pelos agentes penitenciários eram realmente incontáveis, assim como os incidentes terrivelmente violentos e sangrentos que ocorriam. Tudo isso me fez ver claramente que o governo do Partido Comunista da China (PCCh) é a personificação terrena de Satanás que habita o mundo espiritual; é o mais maligno de todos os demônios, e as prisões que administra são o inferno na terra — não apenas em nome, mas na realidade. Lembro-me das palavras na parede da sala em que fui interrogada: “É proibido espancar pessoas arbitrariamente ou sujeitá-las a punições ilegais, e é ainda mais proibido obter confissões por meio de tortura”. No entanto, na verdade, seus atos contrariavam abertamente essas regras. Eles haviam me espancado deliberadamente, uma garota ainda menor de idade, e me punido ilegalmente; além do mais, eles haviam me condenado meramente por minha crença em Deus. Tudo isso me permitiu enxergar claramente os truques usados pelo governo do PCCh para enganar as pessoas e manter ao mesmo tempo uma aparência falsa de paz e prosperidade. Foi exatamente como Deus havia dito: “O diabo entrelaça firmemente todo o corpo do homem, apaga seus olhos e sela seus lábios com firmeza. O rei dos demônios tem causado alvoroço por vários milhares de anos até o dia de hoje, quando ainda mantém forte vigilância sobre a cidade fantasma, como se fosse um palácio de demônios impenetrável; enquanto isso, essa matilha de cães de guarda observa com olhos ferozes, com um profundo medo de que Deus os pegue desprevenidos e os extermine, deixando-os sem um lugar de paz e felicidade. Como as pessoas de uma cidade fantasma tal como essa puderam um dia ter visto Deus? Alguma vez já desfrutaram do carinho e da amabilidade de Deus? Que apreciação têm elas das questões do mundo humano? Quem entre elas é capaz de compreender a vontade ávida de Deus? Portanto, não é de surpreender que Deus encarnado continue completamente escondido: em uma sociedade obscura como esta, onde os demônios são impiedosos e desumanos, como o rei dos demônios, que mata pessoas sem piscar um olho, poderia tolerar a existência de um Deus que é amável, bondoso e também santo? Como poderia aplaudir e comemorar a chegada de Deus? Lacaios! Retribuem bondade com ódio, há muito desdenham de Deus, abusam de Deus, são selvagens ao extremo, não têm a menor consideração por Deus, saqueiam e pilham, perderam toda a consciência, contrariam toda consciência e tentam os inocentes à insensatez. Ancestrais dos antigos? Líderes adorados? Todos eles se opõem a Deus! Sua interferência deixou tudo que está debaixo do céu em estado de escuridão e caos! Liberdade religiosa? Direitos e interesses legítimos dos cidadãos? São todos truques para encobrir o pecado!” (A Palavra, vol. 1: A aparição e a obra de Deus, “Obra e entrada (8)”).
Depois de experimentar a perseguição dos policiais malignos, eu me convenci totalmente dessa passagem das palavras ditas por Deus e agora tinha algum conhecimento e experiência reais: o governo do PCCh é verdadeiramente uma legião demoníaca que odeia a Deus e se opõe a Ele e que defende o mal e a violência, e viver sob a repressão do regime satânico não é diferente de viver em um inferno humano. Ao mesmo tempo, no campo de trabalhos forçados, eu havia visto com meus próprios olhos a fealdade de pessoas de todos os tipos: as faces repulsivas daquelas serpentes oportunistas de fala mansa que bajulavam os carcereiros chefes, os rostos diabólicos de pessoas ferozmente violentas atormentando descontroladamente os mais fracos e assim por diante. Eu, que ainda nem havia iniciado a vida adulta, finalmente enxerguei claramente a corrupção da humanidade durante aquele ano de prisão. Testemunhei a traição no coração das pessoas e percebi quão sinistro pode ser o mundo humano. Também aprendi a distinguir entre positivo e negativo, preto e branco, certo e errado, bem e mal, e entre o que é grandioso e o que é desprezível; vi claramente que Satanás é repulsivo, maligno, brutal e que somente Deus é o símbolo da santidade e da justiça. Somente Deus simboliza beleza e bondade; somente Deus é amor e salvação. Cuidada e protegida por Deus, aquele ano inesquecível passou muito rapidamente para mim. Agora, relembrando tudo, vejo que, apesar de eu ter passado por sofrimento físico durante aquele ano na prisão, Deus usou Suas palavras para me conduzir e guiar, permitindo assim que minha vida amadurecesse. Sou grata por Sua predestinação. O fato de eu ter sido capaz de pôr os pés na senda correta da vida foi a maior graça e bênção que Deus me concedeu, e irei seguir e adorar a Ele pelo resto da minha vida! Agora, olhando para trás, embora eu tenha sofrido algum sofrimento físico durante aquele ano de vida na prisão, Deus usou Suas palavras para me guiar, permitindo assim que minha vida amadurecesse. Este sofrimento e provação são uma bênção especial de Deus para mim. Graças a Deus Todo-Poderoso!