85. Uma época de tortura brutal
Fui criada em uma família comum na China. Meu pai era militar, e por ter sido moldada e influenciada por ele desde cedo, fui levada a acreditar que a vocação e o dever de um soldado eram servir à pátria, seguir ordens e servir de forma altruísta ao Partido Comunista e ao povo. Também estava decidida a entrar para o exército e seguir os passos do meu pai. No entanto, com o passar do tempo e a revelação de certos eventos, o curso da minha vida e o objetivo de minhas ambições foram lentamente mudando. Em 1983, ouvi o evangelho do Senhor Jesus. Foi a orientação especial do Espírito Santo que permitiu que alguém como eu, que havia sido envenenada pelo ateísmo e pela ideologia comunista chinesa desde cedo, fosse profundamente tocada pelo amor do Senhor Jesus. Depois de ouvir o evangelho, iniciei uma vida de crença em Deus — comecei a frequentar a igreja, a orar e a cantar hinos em louvor ao Senhor. Essa nova vida me trouxe grande paz e tranquilidade. Em 1999, aceitei o evangelho dos últimos dias do Senhor Jesus retornado — Deus Todo-Poderoso. Por meio da leitura incessante da palavra de Deus e do encontro e comunhão com meus irmãos e irmãs, alcancei a compreensão de muitas verdades e aprendi sobre a urgente intenção de Deus de salvar a humanidade. Senti que Deus havia concedido a cada um de nós uma grande vocação e responsabilidade, e assim me entreguei com entusiasmo à tarefa de disseminar o evangelho.
No entanto, a cruel perseguição do governo comunista destruiu minha vida serena e feliz. Em agosto de 2002, viajei para a região noroeste com meu marido para disseminar o evangelho a alguns de nossos colegas de trabalho no Senhor. Certa noite, durante um encontro com dois irmãos e irmãs que haviam aceitado apenas recentemente a obra de Deus nos últimos dias, ouvi um súbito estrondo e vi a porta sendo violentamente derrubada. Seis ou sete policiais de feição diabólica entraram correndo, empunhando cassetetes. Um deles apontou para mim e rosnou ferozmente: “Algemem-na!”. Dois policiais nos mandaram ficar imóveis contra a parede enquanto vasculhavam as caixas e baús da casa feito um bando de saqueadores. Estavam procurando atentamente qualquer coisa que pudesse ser usada para esconder algo, e, em pouco tempo, viraram o lugar todo do avesso e de cabeça para baixo. Por fim, um dos policiais encontrou um panfleto do evangelho e um livro da palavra de Deus na bolsa da minha irmã e me encarou com um olhar feroz, gritando: “Que diabos, você está querendo morrer? Vindo aqui e divulgando seu evangelho. De onde veio isso?”. Eu não respondi, e então ele vociferou: “Não vai falar, hein? Nós vamos abrir essa sua boca. Mexa-se! Vamos a um lugar onde você vai falar!”. Com isso ele me arrastou para fora da casa e me enfiou dentro da viatura policial. Naquele momento, percebi que não haviam enviado apenas seis ou sete policiais — havia vários agentes especiais armados alinhados ao longo de ambos os lados da rua. Quando vi o tamanho da força policial que haviam mobilizado para nos prender, fiquei muito assustada e, sem pensar, comecei a orar a Deus pedindo Sua orientação e proteção. Logo em seguida, uma passagem da palavra de Deus me veio à mente: “Você sabe que todas as coisas no ambiente que o cerca existem por permissão Minha, tudo planejado por Mim. Veja claramente e satisfaça o Meu coração no ambiente que Eu dei a você. Não tema, o Deus Todo-Poderoso dos exércitos certamente estará com você. Ele está atrás de vocês e é o seu escudo” (A Palavra, vol. 1: A aparição e a obra de Deus, “Declarações de Cristo no princípio, Capítulo 26”). “É isso mesmo!”, pensei. “Deus é meu pilar; seja qual for o tipo de situação que eu encontre, Deus, o Governador e Criador de todas as coisas, está sempre ao meu lado. Ele me ajudará a superar qualquer situação que eu possa enfrentar. Pois Deus é fiel e é Ele quem governa e orquestra todas as coisas.” Pensando nessas coisas, voltei a me acalmar.
Eram cerca de dez horas da noite quando fui levada para a Brigada de Polícia Criminal. Tiraram minha foto e me levaram para uma sala de interrogatório. Para minha surpresa, já havia quatro ou cinco brutamontes de aspecto selvagem lá dentro, que me encararam de modo intimidador. Assim que entrei, eles me cercaram feito uma alcateia de lobos famintos preparando-se para atacar. Eu estava incrivelmente nervosa e orei desesperadamente a Deus. A princípio, aqueles policiais truculentos não me tocaram, mas apenas ordenaram que eu permanecesse em pé por três ou quatro horas. Fiquei tanto tempo em pé que minhas pernas e pés começaram a doer e ficaram dormentes, e meu corpo inteiro ficou extremamente cansado. Por volta de uma ou duas da manhã, o chefe da Brigada de Polícia Criminal veio me interrogar. Não pude controlar o nervosismo e comecei a tremer. Ele me encarou e começou a me interrogar agressivamente: “Fale! De onde você é? Quem é seu contato aqui? Quem é seu superior? Onde vocês têm se reunido? Quantas pessoas estão sob seu comando?”. Quando eu não disse nada, ele explodiu de raiva, agarrando-me pelos cabelos e me enchendo de socos e pontapés. Quando os golpes me derrubaram ao chão, ele continuou a me chutar com mais força ainda. Meus ouvidos logo começaram a zumbir tanto que eu não conseguia ouvir nada, e minha cabeça parecia explodir de dor lancinante. Não pude fazer nada além de gritar de dor. Após mais alguns momentos de luta, fiquei deitada no chão, incapaz de me mover. O chefe me agarrou pelos cabelos novamente e me pôs de pé; nesse momento, quatro ou cinco daqueles brutamontes me cercaram e começaram a me socar e chutar. Caí ao chão, protegendo a cabeça com as mãos, rolando e me debatendo em dor. Aqueles policiais truculentos não estavam para brincadeira — desferiam cada chute e soco com uma força mortal. Enquanto me surravam, gritavam: “Você vai falar ou não? Ai de você se não falar! Fale ou você está morta!”. Quando o chefe viu que eu ainda não estava falando, ele me chutou violentamente no tornozelo. Toda vez que ele me chutava, era como se alguém enfiasse um prego nos meus ossos, era excruciantemente doloroso. Depois disso, continuaram me chutando por toda parte até que tive a impressão de que tinham quebrado todos os ossos do meu corpo. As convulsões violentas que assolavam minhas entranhas me causavam tanta dor que mal conseguia respirar. Deitei no chão, ofegante e chorando lágrimas de pura agonia. Em meu coração, clamei a Deus dizendo: “Querido Deus! Não suporto mais. Por favor, protege-me, pois temo não passar dessa noite. Querido Deus, concede-me força…”. Não sei por quanto tempo a tortura continuou. Eu me senti extremamente tonta, a dor era tão lancinante que eu parecia estar totalmente dilacerada. A dor era tão intensa que meu corpo ficou completamente dormente. Um dos brutamontes disse: “Parece que você ainda quer mais. Ah, pode apostar que vai falar!”. Ao falar, pegou o que parecia ser um martelo elétrico e o bateu contra minha testa. Eu senti cada golpe no fundo da medula, e cada vez que ele me batia meu corpo inteiro ficava dormente, e então eu perdia as forças e tremia incessantemente. Quando eles viram o quanto eu estava sofrendo, pareceram satisfeitos com seu trabalho e começaram a gargalhar. Em meio ao meu sofrimento, uma passagem da palavra de Deus me deu orientação e iluminação: “Você deve sofrer dificuldades pela verdade, deve se entregar à verdade, deve suportar humilhação pela verdade e, para ganhar mais da verdade, você deve passar por mais sofrimento. É isso que você deve fazer” (A Palavra, vol. 1: A aparição e a obra de Deus, “As experiências de Pedro: seu conhecimento de castigo e julgamento”). A palavra de Deus me deu uma força incrível, e repeti a passagem várias vezes em minha mente. Pensei: “Não posso sucumbir a Satanás e decepcionar a Deus. Para obter a verdade, eu juro suportar qualquer sofrimento e, mesmo que isso signifique minha morte, ainda assim valerá a pena e não terei vivido em vão!”. Aquela gangue de demônios me interrogou a noite inteira até a manhã seguinte, mas como eu tinha a palavra de Deus para me encorajar, fui capaz de suportar a tortura deles. Ao final, haviam esgotado todas as estratégias possíveis e disseram, impotentes: “Você parece uma dona de casa comum, sem nenhum talento especial, então como seu Deus lhe deu tamanha força?”. Eu sabia que não era a mim que aqueles policiais truculentos estavam cedendo, eles estavam se rendendo à autoridade e ao poder de Deus. Testemunhei pessoalmente que a palavra de Deus é a verdade, que ela pode imbuir as pessoas de uma força imensa e que, ao praticar de acordo com a palavra de Deus, é possível superar seu medo da morte e derrotar Satanás. Como resultado de tudo isso, minha fé em Deus ficou ainda mais forte.
Na manhã do segundo dia, por volta das sete horas, o chefe veio me interrogar novamente. Quando ele viu que eu ainda me recusava a falar, tentou me convencer com outro truque ardiloso. Um policial calvo e à paisana entrou, me ajudou a levantar e me acompanhou até um sofá. Ele alisou minhas roupas, me deu um tapinha amigável no ombro e, fingindo preocupação, disse com um sorriso falso: “Olhe só para você, não há por que sofrer dessa maneira. Basta falar conosco e poderá ir para casa. Por que ficar aqui e suportar todo esse tormento? Seus filhos a estão esperando em casa. Você sabe o quanto me dói vê-la sofrer assim?”. Ao ouvir todas aquelas mentiras e ver aquele rosto detestável e cínico, eu cerrei os dentes com raiva e pensei: “Você não passa de um demônio que cospe todo tipo de mentira para me enganar. Não pense por um minuto que eu trairei a Deus! Nem sonhe que direi uma única palavra sobre a igreja!”. Quando o policial viu que eu permanecia firme, ele me encarou lascivamente e começou a me apalpar. Eu me afastei dele automaticamente, mas o canalha me segurou com uma mão para me imobilizar e agarrou meu peito com a outra. Gritei de dor e senti imenso ódio por aquele homem; meu corpo inteiro tremia de tanta raiva e as lágrimas escorreram pelo meu rosto. Encarei-o com tanto ódio que ele, vendo a raiva em meu olhar, me soltou. Por meio dessa experiência pessoal, testemunhei de fato a natureza maligna, reacionária e cruel do governo do Partido Comunista Chinês (PCCh). Vi que a “Polícia do Povo” que trabalhava para a instituição do PCCh não passava de um bando desprezível de brutamontes e canalhas descarados desprovidos de qualquer consciência! Como eu estava sem beber uma única gota de água há 24 horas, meu corpo estava perigosamente exaurido e debilitado e eu realmente não sabia se conseguiria aguentar mais. De repente, fui acometida por um sentimento de profunda tristeza e desesperança. Naquele momento, pensei em um hino da igreja: “Embora seja oprimido e detido pelo grande dragão vermelho, estou ainda mais determinado a seguir a Deus. Vejo quão maligno é o grande dragão vermelho; como ele pode tolerar a Deus? Deus veio na carne — como eu poderia não seguir a Ele? Deixarei Satã e seguirei a Deus. É difícil acreditar em Deus na terra governada pelo diabo. Satanás me persegue, não tenho sequer um lar. Servir a Deus é a lei do céu e o princípio da terra. Tendo decidido amar a Deus, serei fiel até o fim. Seus planos são perversos e desprezíveis. Tendo ganho uma visão clara do semblante de Satanás, amo Cristo ainda mais. Nunca cederei a Satanás, não viverei sem valor. Vou suportar a dor em meio as noites de trevas. Para trazer conforto para Deus, darei testemunho vitorioso e envergonharei Satanás” (Seguir o Cordeiro e cantar cânticos novos, “Erguer-se em meio à escuridão e à opressão”). Esse hino vibrante e vigoroso me trouxe grande motivação: aqueles demônios estavam perseguindo os crentes de Deus dessa maneira porque odeiam a Deus. Seu objetivo vil e maligno é impedir-nos de acreditar em Deus e de segui-Lo e assim interromper e destruir Sua obra e arruinar a chance de a humanidade ser salva. Nesse momento crucial dessa batalha espiritual, eu não podia me render e deixar que Satanás fizesse de mim um motivo de chacota. Quanto mais Satanás me atormentava, mais claramente eu via sua face demoníaca e mais desejava renunciar a ele e ficar ao lado de Deus. Eu acredito que Deus vencerá e que Satanás está condenado a ser derrotado. Eu não podia desistir e queria confiar em Deus e dar um testemunho forte e retumbante Dele.
Quando a polícia percebeu que eu não lhes daria nenhuma informação valiosa, desistiram do interrogatório e, naquela noite, me transportaram para uma casa de detenção. A essas alturas eu estava irreconhecível de tanto que havia apanhado — meu rosto estava inchado, eu não conseguia abrir os olhos, e meus lábios estavam cobertos de feridas. Os guardas da prisão na casa de detenção deram uma olhada e, vendo que eu havia sido espancada quase até a morte, os funcionários da casa de detenção não quiseram assumir nenhuma responsabilidade pelo que havia acontecido e se recusaram a me aceitar. No entanto, depois de alguma negociação, finalmente fui admitida por volta das sete da noite e escoltada para uma cela.
Naquela noite, comi minha primeira refeição desde que fora presa: um pão duro, preto e granuloso cozido no vapor, que era duro de mastigar e difícil de engolir, e uma tigela de sopa de verduras murchas, com vermes mortos que flutuavam nela e uma camada de terra no fundo da tigela. Nada disso me impediu de comer a refeição o mais rápido possível. Como eu era crente, nos dias seguintes, o agente penitenciário instigava frequentemente as outras presas a infernizar minha vida. Certa vez, a prisioneira-chefe de nossa cela deu uma ordem e suas seguidoras me agarraram pelos cabelos e bateram minha cabeça contra a parede. Bateram minha cabeça com tanta força que fiquei tonta e não consegui enxergar direito. Além disso, à noite, elas não me deixavam dormir na cama, e assim tive de dormir no chão de concreto frio ao lado do vaso sanitário. Mais ainda, os guardas da prisão me faziam recitar as regras da casa de detenção, e se eu errasse ou esquecesse alguma, elas me chicoteavam com um cinto de couro. Diante dessa tortura e humilhação desumana quase constante, fiquei fraca e pensei que seria melhor morrer do que sofrer como um animal enjaulado dia após dia. Muitas vezes, quando eu estava prestes a bater a cabeça contra a parede e por um fim a tudo, as palavras de Deus me guiavam, dizendo: “Durante estes últimos dias, vocês devem dar testemunho de Deus. Não importa quão grande seja o sofrimento de vocês, devem caminhar até o fim e até mesmo até seu último suspiro, ainda assim vocês devem ser fieis a Deus e ficar à mercê de Deus; só isso é realmente amar a Deus e apenas isso é o testemunho forte e retumbante” (A Palavra, vol. 1: A aparição e a obra de Deus, “Somente experimentando provações dolorosas é que você pode conhecer a amabilidade de Deus”). As palavras de Deus me encorajaram e aqueceram meu coração. Enquanto eu ponderava as palavras de Deus, lágrimas jorravam dos meus olhos. Pensei em como, quando eu estava sendo cruelmente espancada pelos policiais truculentos, fora o amor de Deus que havia cuidado de mim o tempo todo. Ele havia me guiado com Suas palavras, me concedido fé e força e me permitido sobreviver obstinadamente àquela tortura terrível. Depois de ter sido abusada e intimidada pela prisioneira-chefe de nossa cela e torturada pelas outras detentas a ponto de quase sofrer uma crise de nervos e pensar em acabar com minha própria vida, as palavras de Deus mais uma vez me deram fé e coragem para eu me reerguer. Se Deus não tivesse estado ao meu lado me vigiando, eu teria sido atormentada até a morte por aqueles demônios perversos há muito tempo. Diante do grande amor e misericórdia de Deus, eu não podia mais resistir passivamente e entristecer Seu coração. Eu tinha de me manter firme ao lado de Deus e retribuir Seu amor com lealdade. Inesperadamente, depois de restaurar meu estado de espírito, Deus fez com que outra presa se levantasse e protestasse em meu nome, ela e a prisioneira-chefe gerando um grande confronto. No final, a prisioneira-chefe acabou cedendo e me permitiu dormir na cama. Graças a Deus. Se não fosse pela misericórdia de Deus, continuar dormindo no chão de concreto frio e úmido por muito tempo teria me matado ou me deixado paralisada, dada minha condição debilitada. Dessa maneira, eu consegui sobreviver por dois meses exaustivos na casa de detenção. Durante esse tempo, os policiais truculentos me interrogaram mais duas vezes usando a mesma estratégia de policial bom, policial mau. No entanto, com a proteção de Deus, fui capaz de enxergar a trama astuta de Satanás e frustrar o esquema perverso deles. No final, eles não tinham mais estratégias, e depois de tantos interrogatórios fracassados finalmente me condenaram a três anos de prisão e me enviaram à Segunda Penitenciária Feminina para cumprir minha pena.
Desde meu primeiro dia na prisão fui forçada a fazer trabalho físico exaustivo. Tinha de trabalhar mais de dez horas por dia e tricotar um suéter, ou confeccionar trinta a quarenta peças de roupa ou empacotar dez mil pares de pauzinhos todos os dias. Se eu não conseguisse concluir essas tarefas, minha sentença seria prolongada. Como se já não bastasse o trabalho físico extenuante, à noite éramos forçadas a participar de uma espécie de lavagem cerebral política destinada a nos destruir psicologicamente, obrigando-nos a estudar as regras da prisão, a lei, marxismo-leninismo e maoísmo. Sempre que ouvia os agentes penitenciários propondo seus absurdos ateístas, eu ficava enojada e sentia puro ódio por suas atitudes desprezíveis e cínicas. Durante todo o tempo que passei na prisão, nunca tive uma única noite de sono profundo — muitas vezes éramos subitamente acordadas no meio da noite pelos apitos dos guardas penitenciários. Eles nos faziam levantar e ficar em pé no corredor sem nenhum motivo aparente ou nos passavam tarefas como carregar batatas, milho e ração. Cada saco pesava mais de 50 quilos. Nas noites de inverno tínhamos de suportar ventos uivantes que nos congelavam até os ossos. Nós nos movíamos com extrema dificuldade, um pé de cada vez, às vezes desabando sob o peso de nossas cargas. Muitas vezes eu arrastava meu corpo cansado de volta à cela às duas ou três da manhã, exausta e com os olhos em lágrimas. Nessas noites, uma mistura de fadiga, frio e raiva me impedia de voltar a dormir. Sempre que eu pensava que ainda tinha de suportar três longos anos de prisão, eu caía em um desespero ainda mais profundo e meu corpo inteiro parecia paralisado de exaustão. Deus estava totalmente ciente do meu sofrimento e, nos meus piores momentos, Ele me orientava a lembrar dessa passagem de Suas palavras: “Não fique desanimado, não seja fraco, e Eu esclarecerei as coisas a você. A estrada para o reino não é tão fácil; nada é assim simples! Vocês querem que as bênçãos venham a vocês facilmente, não querem? Hoje, todos terão provações amargas para enfrentar. Sem tais provações, o coração amoroso que vocês têm por Mim não se tornará mais forte e vocês não terão um amor verdadeiro por Mim. Mesmo se essas provações consistirem simplesmente de circunstâncias menores, todos devem passar por elas; só a dificuldade das provações é que variará de uma pessoa para outra” (A Palavra, vol. 1: A aparição e a obra de Deus, “Declarações de Cristo no princípio, Capítulo 41”). As palavras de Deus consolaram profundamente meu coração angustiado e sofredor e me permitiram entender Sua vontade. A situação em que agora me encontrava era um verdadeiro teste. Deus queria ver se eu permaneceria leal a Ele em meio a tanto sofrimento e se eu realmente O amava. Embora três anos de prisão fossem bastante tempo, com a palavra de Deus para me guiar e Seu amor para me sustentar, eu sabia que não estava sozinha. Eu confiaria em Deus para suportar toda a dor e sofrimento e derrotar Satanás. Eu não podia ceder à timidez.
As trevas e a maldade do governo do PCCh eram evidentes em todos os aspectos dessa prisão administrada por eles, mas o amor de Deus esteve sempre comigo. Certa vez um guarda penitenciário ordenou que eu carregasse um saco de pauzinhos até o quinto andar. Como as escadas estavam cobertas de gelo, tive de andar bem devagar devido ao peso do saco. No entanto, o guarda ficava me apressando. Temendo ser espancada se não cumprisse a tarefa, fiquei ansiosa e, na pressa, escorreguei e rolei escada abaixo, quebrando o osso do calcanhar. Fiquei estirada no chão, incapaz de mover a perna e suando frio devido à dor aguda da fratura. O guarda, no entanto, não deu a mínima. Disse que eu estava fingindo e ordenou que eu me levantasse e continuasse trabalhando, mas eu não tinha condições físicas de me erguer. Uma irmã da igreja, que estava cumprindo pena na mesma prisão que eu, viu o que havia acontecido e imediatamente me levou para a enfermaria da prisão. Lá, o médico de plantão apenas enfaixou meu pé, me deu alguns comprimidos baratos e me dispensou. Temendo que eu não conseguisse cumprir minha cota de trabalho, o guarda não permitiu que eu tivesse tratamento algum, então tive de continuar trabalhando com o pé quebrado. Não importava onde fôssemos trabalhar, a irmã me carregava nas costas até lá. Como o amor de Deus havia unido nossos corações, sempre que ela tinha oportunidade, a irmã comunicava comigo a palavra de Deus para me encorajar. Foi um imenso conforto para mim em meus momentos de maior abatimento e dificuldade. Durante esse período, não sei quantas vezes me senti dolorida e fraca demais para me levantar e mal tinha energia para respirar. Tantas vezes me escondi debaixo da colcha, orando a Deus em prantos, mas estes dois hinos sempre me encorajavam e consolavam: “O fato de você ser capaz de aceitar o julgamento, o castigo, os golpes e o refinamento das palavras de Deus e, além disso, ser capaz de aceitar as comissões de Deus, foi predeterminado por Deus antes das eras; logo, você não deve se afligir demais quando for castigado. Ninguém pode tirar a obra que foi feita em vocês nem as bênçãos que lhes foram concedidas, e ninguém pode tirar tudo o que foi dado a vocês. Pessoas religiosas não admitem comparação com vocês. Vocês não são dotados de grande conhecimento sobre a Bíblia nem estão equipados de teoria religiosa, mas por Deus ter trabalhado dentro de vocês, vocês ganharam mais do que qualquer outra pessoa ao longo das eras, e essa é a sua maior bênção” (Seguir o Cordeiro e cantar cânticos novos, “Você não pode decepcionar a vontade de Deus”). “A estrada pro reino tem muitos altos e baixos. Eu fico entre a vida e a morte, entre a tortura e as lágrimas. Sem a proteção de Deus, quem conseguiria viver hoje? Nosso nascimento planejou nos últimos dias, somos felizes seguindo a Cristo. Deus Se humilhou pra tornar-Se homem, sofrendo grande vergonha. Como sou humano se não amo a Deus? […] Como amo a Deus, não me arrependerei de segui-Lo e testemunha-Lo. Mesmo sendo fraco e pessimista, em lágrimas, amo a Deus. Sofro e dou o meu amor a Ele, sem nunca causar-Lhe dor. ser temperado nas provações como o ouro que passa na prova do fogo. Meu coração é temperado como o ouro. como não Lhe entregaria o meu coração? Sendo difícil a estrada pro céu, muitas lágrimas hão de cair” (Seguir o Cordeiro e cantar cânticos novos, “Canção de amar a Deus sem arrependimentos”). As palavras e o amor de Deus me salvaram das profundezas da desesperança e, repetidamente, me deram coragem para continuar vivendo. Naquele inferno frio e escuro na terra, experimentei o calor e a proteção do amor de Deus e estava determinada a continuar vivendo para poder retribuir o Seu amor. Por mais que eu sofresse, eu tinha de prosseguir; mesmo que me restasse um último suspiro, eu tinha de permanecer leal a Deus. Durante meus três anos na prisão, fiquei profundamente comovida quando minha irmã me deu algumas páginas manuscritas da palavra de Deus. O fato de eu poder ler Sua palavra em uma prisão administrada por demônios, mais vigiada do que Fort Knox, era realmente um testemunho do imenso amor e misericórdia que Deus estava me demonstrando. Foram essas palavras de Deus que me encorajaram e me orientaram, permitindo que eu suportasse aquele período tão difícil.
Minha pena terminou em setembro de 2005, e eu finalmente pude deixar para trás os dias sombrios do cárcere. Ao sair da prisão, respirei fundo e agradeci a Deus do fundo do coração por Seu amor e proteção, que haviam permitido que eu sobrevivesse à minha sentença. Devido à minha experiência pessoal de ter sido presa e perseguida pelo governo do PCCh, eu agora sei o que é justo e o que é mau, o que é bom e o que é perverso, e o que é positivo e o que é negativo. Eu sei o que devo abandonar tudo para buscar e o que devo rejeitar com ódio e maldições. Por meio dessa experiência, aprendi de fato que a palavra de Deus é Sua própria vida e que é investida de poderes sobrenaturais que podem ser a força motriz da vida humana. Contanto que o homem viva pela palavra de Deus, ele será capaz de superar todas as forças de Satanás e vencer mesmo nas circunstâncias mais adversas. Graças a Deus!